Num dia improvável mas muito possível ou mesmo inevitável, toda a gente decidirá não sair de casa. O mundo parará e fará greve a si próprio. Nesse dia, haverá tempo para pensar, para respirar, para chorar copiosamente por todas as atrocidades cometidas só por excesso de adrenalina, testosterona, estupidez ou maligna estratégia geopolítica. Depois, e só mesmo para quem pode, alguns farão uma sesta. Outra tanta gente tomará um banho. Muitos e muitas serão os e as que limparão o ranho à camisola e ajeitarão a pouca roupa que trazem no corpo. Voltamos a sair. Daremos o braço a um próximo, a uma vizinha, a um desconhecido, a uma mãe, a uma filha. Sem nenhuma outra razão aparente que não um “estava a ver que nunca mais!”, desceremos todas as avenidas e chegaremos a esta praça. A praça que é uma escola, que é uma troca, que é o lugar para todas as classes e para todas as possibilidades. Trocaremos impressões. Trocaremos acepipes. Trocaremos propostas para os próximos 50 anos de abril. Ocuparemos as ruas, que é tudo o que precisamos para as transformar. E sem nos darmos conta, de longe chegar-nos-á aquele som dos passos arrastados na gravilha, aquele ritmo moreno que toda a gente conhece. O passo faz-se compasso, o Cante desfaz-se em manifestação. A manifestação desarruma-se em marcha. A marcha dissolve-se no ar mas não se desvanece. A sua vibração mantém-se no ar e nas ruas e volta a lançar na música o mote! A noite cairá.
Convocamos a vossa presença na Praça Doutor Joaquim de Melo Freitas (Estreia Nacional) com o pôr do sol, para um primeiro minuto do vosso silêncio enquanto respiramos esta ideia memorável de uma revolução precedida de uma greve do mundo.
O Amanhã é inevitável e começará.
Patrícia Portela
Ideia original, texto e encenação: Patrícia Portela
Artistas convidados e co-criadores
Cenografia/mercado: Patrícia Portela com João Gonçalves
Composição musical e ambiente sonoro: Miguel Abras
Coreografia-manifestação: Vânia Rovisco
Desenho de luz: Zé Rui
Atores e performers: Diogo Dória, Mónica Coteriano, Stella Costa, Frederico Botta, Miguel Baltazar, Beatriz Teodósio, Sara Alexandra, João Grosso, Ana Rocha, Célia Fechas, Mariana Brandão (participação especial)
Coros: Coro Menor, Coro de Câmara de Cascais, Coro Relâmpago de Aveiro, Gemas d’Aveiro
Direcção musical: Maria Repas
Direção Coro Menos: Elsa Bruxelas (Coro Menor)
Direção técnica (Som): Hélder Nélson
Edição/revisão de texto: Isabel Garcez
Pré Produção: Renzo Barsotti
Apoio Pré-produção: Sandra Oliveira
Design Gráfico: Multa
Produção PRADO: Nuno Eusébio e Sara Alexandra
Uma produção: PRADO
Co Produção: TEATRO NACIONAL D. MARIA II, TEATRO AVEIRENSE e ROTA CLANDESTINA
Apoio à residência artística: DuplaCena
Apoios: Câmara Municipal de Lisboa e Egeac/CML, Câmara Municipal de Oeiras, Antena 1, TDM Rádio Macau, Arquivos Ephemera, Confeitaria Nacional, OMA - Oficina de Música de Aveiro, Confeitaria Maria da Apresentação da Cruz e Herdeiros,Tricot’Aveiro,Tricot de Oeiras.
Agradecimentos: Kellzo, Patrícia Costa, Zé Tó Rodrigues, Rita Quintela, Joana Gama, Cecília Folgado, Nuno Martins, Paula Nunes